sábado, 15 de novembro de 2008

O REINO DO CHOCOLATE

A volta ao mundo do chocolate em 80 dias.
Em 80 dias de obra e uma grande equipe (construtoras, administradores de operacional, artistas plásticos e eu) realizamos este trabalho. Uma área de 1600m² foi totalmente reformada, as demolições duraram cerca de 20 dias e em 60 dias foram construídos um espaço temático e um loja de chocolates. Contando com 9 ambientes cenografados o espaço temático conta a história do chocolate desde os aztecas em 1519, a cafeteria da fazenda representa uma lavoura de cacau. A loja, bem como a entrada do espaço temático mostram um estilo palaciano com muitos detalhes dourados e apresentam a família real do Reino do Chocolate.










sábado, 12 de julho de 2008

LisBOA






Seth Sherwood

The New York Times



Para seu 99° aniversário, no ano passado, a decrépita Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, passou pelo equivalente imobiliário a uma conversão espiritual.

Fabricante de armas durante os anos sombrios da ditadura portuguesa, as instalações há muito abandonadas renasceram como o mais novo e ambicioso centro cultural de Lisboa. Armas e granadas foram substituídas por salas de concerto, espaços de exposição, uma imensa livraria, um cinema, um restaurante e diversos bares.

Quando a metamorfose estava concluída, só restava uma dúvida: será que os lisboetas se disporiam a ir até a periferia da cidade para visitar um velho espaço industrial com uma história sinistra e uma política de programação eclética, que mistura música eletrônica, conferências filosóficas e free jazz?

"O risco era grande", diz Michel de Roubaix, um artista residente que toca acordeão e lidera um grupo de cabaré pós-moderno que se apresenta no centro cultural. Afinal, não estamos falando de uma metrópole com uma tradição longamente estabelecida de arte de vanguarda, como Paris ou Berlim, mas da velha e pacata Lisboa, uma cidade pequena, católica, mais conhecida por restaurantes de frutos do mar bons e baratos, bondes antiquados e pela arquitetura colonial decaída da era imperial portuguesa, encerrada há muito.

Mas em uma noite fresca de março, as multidões que formavam fila no complexo deixavam claro que a cidade estava mais que pronta para uma dose de boemia progressista em seu canto remoto da Europa. A multidão misturava gente com cara de professores universitários, jovens tatuados, casais burgueses e universitários de óculos que se espalhavam pelo complexo para desfrutar da variada oferta que a Fábrica Braço de Prata apresentava naquele dia: um grupo de jazz, uma banda de reggae, um documentário sobre Leonard Cohen e uma festa que começava à uma da manhã, misturando DJs e bandas alternativas.

¿É criatividade em todas as áreas - teatro, arte, música, dança¿, disse Roubaix sobre os atrativos do complexo, deixando transparecer sua satisfação diante do sucesso inesperado. "Os eventos e shows têm giro rápido e com isso o lugar se mantém dinâmico". O mesmo pode ser dito sobre a Lisboa do século 21.

A transformação pela qual passou a Fábrica Braço de Prata é emblemática da súbita ascensão cultural da cidade. Como a fábrica, Portugal se manteve por muito tempo na periferia geográfica e cultural da Europa. Entre os anos 20 e os 70, uma ditadura repressiva sufocou o país, fazendo com que as pessoas mais criativas trocassem Lisboa por Londres e Paris, o que prejudicou o desenvolvimento de uma cena cultural.

A economia também estava em declínio. Depois de servir como centro a um império mundial de comércio, Portugal afundou até que sua única notoriedade passou a ser a reservada ao país mais pobre da Europa Ocidental. Enquanto os monumentos de Lisboa - teatros romanos, edificações mouras, igrejas góticas, praças barrocas - juntavam poeira, a cidade se transformava em relíquia, esquecida e desolada.

Última das capitais da Europa Ocidental a registrar um boom cultural, Lisboa está trabalhando com avidez para recuperar o tempo perdido. Em toda a cidade, uma nova geração está disposta a abandonar os estereótipos em tons de sépia e a construir alegremente empreitadas de vanguarda, progressistas, em meio aos desgastados monumentos e às pitorescas ruas calçadas de pedras.

"Lembro de pensar, quando criança, que nada acontecia em Lisboa. Por que teríamos de ir ao exterior para ver coisas acontecendo, novidades, e conseguir inspiração?", disse Nuno Pinho, 33 anos, co-proprietário de uma galeria chamada In-Cubo, inaugurada no ano passado. "Agora, tanta coisa acontece em Lisboa que ninguém consegue acompanhar todas elas - concertos, exposições. Não somos mais uma cidade antiquada na qual as mulheres carregam peixe na cabeça", diz.



A In-Cubo ocupa o espaço que pertencia a uma loja de antiguidades, e se dedica a arte de rua e outras formas contemporâneas de arte urbana. Projetos de renovação semelhante estão acontecendo em todo o bairro de Príncipe Real, no qual edifícios dilapidados estão sendo ocupados por lojas conceituais, galerias e butiques.

À pouca distância, um clube de strip-tease de passado tosco chamado Cabaret Maxime foi reinaugurado como casa noturna para as bandas mais incomuns e inovadoras da cidade, e para apresentações performáticas. Se somarmos a isso o novo museu de arte de primeira qualidade que Lisboa inaugurou, o Museu Coleção Berardo, e uma indústria local de moda que começa a ascender, teremos o centro cultural que mais cresce na Europa.





O futuro parece ainda mais brilhante. No ano que vem, acontecerá a aguardada inauguração do MuDe, um museu de moda e design internacional com oito pavimentos. Enquanto isso, Norman Foster foi contratado para construir um vasto projeto no bairro de Santos, um centro de design que começa a surgir em Lisboa, e isso resultará em ainda mais lojas e espaços de arte de vanguarda na região costeira. Jean Nouvel, astro da arquitetura premiado com o Pritzker este ano, também deve deixar sua marca pós-moderna em Lisboa. O Projeto Alcântara-Mar, se realizado, conterá quatro esguios edifícios que abrigarão restaurantes, cafés, lojas, jardins e apartamentos.
Jean Nouvel


Norman Foster



E enquanto os atrativos culturais da cidade crescem, seu perfil internacional ganha força. A MTV Europe escolheu Lisboa para realizar sua cerimônia anual de premiação em 2005, e no ano passado o influente Conselho Mundial de Viagens e Turismo, sediado em Londres, realizou sua convenção na capital portuguesa.

Aliás, o interesse internacional parece destinado a se intensificar, graças a diversos festivais internacionais renomados cujas edições iniciais na cidade aconteceram nos últimos anos, entre os quais a bienal ExperimentaDesign (que voltará a ser realizada em 2009) e a Trienal de Arquitetura de Lisboa (que volta em 2010).

Em uma noite agradável de primavera, a 30ª edição do Moda Lisboa, um evento semestral, estava bombando. A música eletrônica tomava todo o espaço no Cassino Estoril, e modelos ocupavam a passarela com vestimentas futuristas pretas e cinzentas que se assemelhavam a uniformes de vôo na concepção de um grande estilista.

A coleção retrofuturista, chamada Metropolis e criada pela jovem designer Katty Xiomara, claramente havia tomado por inspiração o filme homônimo de Fritz Lang. "No começo, não tínhamos compradores nem revistas de moda, e nada de jornalistas. Só uma agência de modelos participava", disse Eduarda Abbondanza, diretora do evento, sobre as edições iniciais do Moda Lisboa, nos anos 90.

Ao lado dela, equipes de TV italianas e portuguesas entrevistavam estilistas e celebridades locais, muitas portando taças de champagne em uma mão e um BlackBerry na outra. "Agora temos universidades de moda e mídia mundial está aqui", ela observou, antes de declamar uma lista de estilistas portugueses que hoje trabalham para grandes marcas internacionais de moda como Balenciaga, Givenchy e Betsey Johnson.

Os lisboetas elegantes gostam de exibir seus cartões de crédito na Storytailors, de longe a mais estranha e a mais brilhante das novas lojas da cidade. Inaugurada em 2007 por dois jovens estilistas, João Branco e Luis Sanchez, a Storytailors é menos uma empresa de varejo que um baú de maravilhas onde os fantasmas de Lewis Carroll e dos irmãos Grimm assombram os corredores. O armazém construído no século 18 está repleto de saias, corpetes e elaboradas roupas de renda, com tecidos de rica estampa e cores caleidoscópicas.



Branco, 30 anos, comodamente largado em uma cadeira de braços em estilo barroco, explicou que cada coleção anual de sua loja começa com um conto de fadas, mito ou lenda clássico, português ou internacional. Os dois estilistas contratam escritores que transformam o conto em uma "história distorcida", cujos personagens e experiências servem de base às coleções. "Quando criamos esse projeto, as pessoas diziam que deveríamos tentar outra cidade, como Londres ou Paris", diz, sorrindo com a lembrança. "Mas nós acreditávamos que Portugal tinha potencial e que alguma coisa poderia acontecer aqui." E ele provou que está certo, até agora. Vestidos da dupla agora são usadas por clientes como a cantora inglesa Lily Allen e Madonna.

Localizado diante do Mosteiro dos Jerônimos, um magnífico mosteiro gótico do século 16 construído no auge do império português, o Museu Coleção Berardo, inaugurado há um ano em Lisboa, representa a mais audaciosa tentativa da cidade para reconquistar importância cultural no século 21. Como disse o primeiro-ministro José Sócrates, quando da inauguração do museu no ano passado, "antigamente a rota da arte européia acabava em Madri. Agora ela chega até aqui".

É o tipo de declaração que se espera de um político, evidentemente, mas o acervo do museu empresta autoridade às suas palavras. O lugar está repleto de peças famosas, por artistas como Picasso, Duchamp, Piet Mondrian, Francis Bacon, Richard Serra, Nam June Paik, Nan Goldin, Andreas Gursky ¿todos os pesos pesados reunidos ao longo dos anos na coleção de José Berardo, um gigante dos negócios portugueses.

Alguns dias mais tarde, enquanto a roupa lavada na tarde do sábado oscilava das sacadas lisboetas ao vento vespertino, algumas dezenas de moradores locais e turistas embarcavam em dois ônibus diante do Museu da Cidade, com destino a uma visita aos mais quentes artistas locais do momento e do futuro.

Organizada pela Lisboarte (www.lisboarte.com), confederação de galerias locais, ônibus conduzem os visitantes em dois circuitos distintos pela cidade, em visitas a galerias que coordenaram os dias de suas exposições. As visitas acontecem cerca de seis vezes por ano, e são essenciais em uma cidade na qual o cenário artístico está se expandindo mas não existe um centro geográfico que concentre as galerias.

A galeria Luis Serpa, uma das mais prestigiosas da cidade, vem defendendo apaixonadamente os artistas portugueses, como Cabrita Reis, e promovendo seu trabalho em eventos internacionais. Mas o mais ambicioso projeto da galeria ainda não foi implementado. No ano que vem, seu proprietário, Luis Serpa, vai criar um grupo de pesquisa formado por especialistas internacionais - planejadores urbanos, empresários da cultura - com o objetivo de elevar Lisboa, enfim, à posição de capital da cultura internacionalmente reconhecida.

Boa parte de sua esperança, diz ele, envolve atrair pessoas criativas de todo o mundo "para criar um lugar cosmopolita no qual novos talentos possam criar de maneira nova".

"Acredito que Lisboa tenha ótima chance de ser uma plataforma transcultural para a criatividade no futuro, porque temos ótimo clima, ótima comida, espaços desocupados e preços baixos", disse Serpa. "Arquitetura, design, arte, fotografia e literatura estarão envolvidos."

Uma década atrás, seu pronunciamento causaria risadas. Mas hoje todos parecem aprovar. Ainda este ano, contou Serpa, sua galeria pretende promover exposições de artistas "da China ao Egito, do Irã à França e Espanha".

"Lisboa tem o potencial de se tornar a mais cosmopolita e internacional das cidades", diz ele. "Acredito nisso realmente."

The New York Times